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O que é aprender? – O Cérebro e a memória

Como anunciado na parte 1 desta série de textos sobre O que é aprender?, vamos começar explorando os processos biofísicos do aprendizado, como o cérebro aprende, como ele assimila o conhecimento? 

Primeiro vamos começar falando um pouco da memória, parte importante da nossa condição de ser humano. Como já falado anteriormente, até o século XVI, aprender era sinônimo de memorizar. O nosso cérebro consegue criar memórias através de alterações estruturais entre as conexões que nossos neurônios fazem entre si. A memória de trabalho é uma memória de curto prazo, ou seja, uma memória que armazena informações por um curto período de tempo. Apesar de ser uma memória mais volátil, ela é fundamental para diversos processos cognitivos, entre eles, a manutenção do nosso foco em determinados tipos de informações que são bastante importantes para o nosso aprendizado. Através da memória de trabalho que conseguimos manter um pensamento lógico, uma sequência que faça sentido para nós enquanto estamos absorvendo informações a fim de aprender algo. 

Você já deve ter passado por isso: ao ler um livro, perder a atenção por um momento pensando na sua lista de compra ou algum outro compromisso importante do seu dia e, quando a atenção é retomada, você passou por algumas páginas e não consegue estabelecer uma ligação entre a última coisa que leu com atenção com a página atual, pois sua memória de trabalho não foi capaz de focar nas páginas perdidas. Logo, a sequência lógica foi quebrada, você fica perdido e tem que retomar a leitura das páginas que perdeu a atenção. 

Agora sabemos o que é memória de trabalho e sua função na construção do conhecimento. Mas, fisicamente, onde fica armazenada esta memória de trabalho? A memória de trabalho depende de três partes importantes do nosso cérebro: a primeira parte é o córtex pré-frontal, o lobo temporal e lobo occipital.

Estrutura geral do cérebro: o córtex pré-frontal está localizado na parte frontal do cérebro (frontal conv.), o lobo temporal na parte média inferior (temporal conv.) e o lobo occipital na parte posterior (occipital).

O desenvolvimento e a complexidade de atuação do nosso córtex pré-frontal é o que nos diferenciam dos outros animais. Uma das suas principais funções é o controle executivo, que são os processos cognitivos básicos essenciais para o controle do nosso comportamento, sendo um deles, o aprendizado. 

O lobo temporal tem por função a audição e a compreensão da palavra falada. O lobo occipital é conhecido por ser um lobo visual e sua principal função é a compreensão de imagens. 

Assim, a memória de trabalho pode ser dividida em 2 tipos: a memória operacional auditiva exercida pelo lobo temporal e a memória visuoespacial exercida pelo lobo occipital. 

Porém, a memória de trabalho tem suas limitações. Imagine a seguinte situação, abra um outro texto aqui do nosso blog, tente lê-lo em 30 segundos e faça um resumo do que leu. Depois disso, leia o texto com calma e veja se seu resumo corresponde ao real significado do texto. Você verá que seu resumo não corresponde à totalidade do texto. Você pode ter compreendido errado algum parágrafo ou pulou alguma parte importante. O tempo que você utilizou pra fazer o primeiro resumo não foi suficiente para conseguir entender o texto em si. Basicamente, fez com que sua memória de trabalho não conseguisse reter as informações e você não pôde trabalhar sobre ele porque não existiu uma sequência lógica no texto pois sua memória de trabalho estava deficiente. 

Esse breve exercício tem relação com o nosso processo de aprendizado, uma vez que qualquer tipo de déficit faz com que nós não consigamos reter temporariamente as informações prejudicando o nosso aprendizado como um todo. 

Sendo assim, pode-se dizer que a nossa memória operacional é regida pela nossa atenção, ou seja, o foco que a gente consegue dar a um determinado tipo específico de informação. Então, só conseguimos transformar essa memória de curto prazo ou essa memória de trabalho em uma memória duradoura, de longo prazo, através da atenção, foco e repetição. Sobre temas como nossa saúde mental, atenção e foco, temos uma ótima série aqui no nosso blog que exploram esses temas. Confiram: https://complementarcursos.com.br/blog/category/aprender/

Vimos aqui o papel do cérebro e da memória de curto prazo no aprendizado e procedimentos que necessitamos para aprender. Mas paira a dúvida: como nosso cérebro consolida nosso aprendizado, ou seja, como ele transforma as memórias de curto prazo em longo prazo? Iremos explorar isso na nossa próxima coluna. 

Obrigado. 

Abraços, 

Referências: 

Chai WJ, Abd Hamid AI and Abdullah JM (2018) Working Memory From the Psychological and Neurosciences Perspectives: A Review. Front. Psychol. 9:401. DOI: 10.3389/fpsyg.2018.00401 

Eriksson J, Vogel EK, Lansner A, Bergström F, Nyberg L. Neurocognitive Architecture of Working Memory. Neuron. 2015;88(1):33-46. doi:10.1016/j.neuron.2015.09.020 

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