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Modelo transteórico

O modelo transteórico é uma forma de estruturar os estágios e processos que passamos para adoção de comportamentos em nossas vidas.

Convenhamos, estudar é difícil e, muitas vezes, maçante. Por isso, para conseguirmos tornar o estudo um hábito, precisamos aprender sobre nossos comportamentos.

Hoje falaremos sobre hábitos, mais especificamente sobre como são formados.

Essa definição é uma das premissas do modelo transteórico. Além de discutirmos o que é o modelo, suas fases e funcionamentos, também veremos formas de aplicá-lo e, por fim, se ele é, ou não, aceito pela ciência.

Se você já tem conhecimento sobre esse modelo, tente responder às seguintes perguntas:

O que é o modelo transteórico e quais são suas fases?

Como ele pode ser aplicado para a mudança de hábitos?

Como ele é enxergado pela ciência?

O que é o modelo transteórico?

O modelo transteórico é uma forma de estruturar os estágios e processos que passamos para implementação de hábitos em nossas vidas.

Foi elaborado no ano de 1979 pelo pesquisador Prochaska e apresentado no livro Systems of psychotherapy: A transtheoretical analysis. Hoje, é mais simples de encontrar o Reprint desse livro, publicado em 2018.

Desde 1979, o modelo recebeu muita notoriedade da comunidade científica e, por isso, foi testado e aplicado extensivamente nos anos que se sucederam.

Como descrito por Prochaska e DiClemente neste artigo, ele surgiu após a análise de 18 psicoterapias e mais de 300 estudos de caso relacionados a elas. E conta com 2 alicerces, os processos e estágios de mudança.

Vamos conversar sobre o que são os processos de mudança?

O que são os processos de mudança?

Processos de mudança são: ações que, quando executadas, auxiliam a pessoa a alcançar seu objetivo de mudança comportamental.

Cada linha terapêutica possui seus próprios processos. Por isso, para criação de sua teoria, Prochaska analisou 18 psicoterapias, como a Comportamental, Behaviorista, Experimental, entre outras. 

Seu intuito era compreender e unificar os processos utilizados por cada vertente. Como resultado, 10 processos foram identificados, eles foram divididos em 5 categorias, 2 tipos e 2 grupos.

Para simplificar a compreensão traduzimos a tabela criada neste artigo.

VerbalComportamental
Expansão da consciência
(A) Feedback: Quanto mais compreendo as razões que me fazem fumar, mais fácil é parar.

(B) Educação: As informações presentes em campanhas educacionais me auxiliaram a parar de fumar.
Estímulos condicionais
(A) Contracondicionamento: Encontrei outras formas de relaxamento ao invés de fumar.

(B) Controle de estímulo: Me livrei de tudo que me fazia lembrar do cigarro.
Catarse
(A) Experiência emocional corretiva: Tive uma forte experiência emocional que me auxiliou a parar de fumar.

(B) Alívio dramático: O sentimento que tive ao assistir anúncios e campanhas contra o tabagismo me auxiliaram a parar de fumar.
Gerenciamento de contingências

(A) Autogerenciamento: Eu me parabenizei e me valorizei por cada dia que eu ficava sem fumar.

(B) Gerenciamento social: Inseri outras pessoas no meu processo de parar de fumar. 
Compromisso
(A) Auto liberação: Foi o compromisso de parar de fumar dia após dia que me auxiliou a parar de fumar.
(B) Liberação social: Movimentos sociais anti-tabagismo me ajudaram a parar de fumar.

As categorias – Verbal e Comportamental – dizem respeito à forma em que os processos ocorrem. Essa distinção se dava pois as terapeutas podiam ter como foco a fala ou manipulação de comportamentos.

Os tipos, representados pelas legendas (A) e (B), relacionam-se a processos internos ou ambientais. Ou seja, o processo de mudança do Compromisso poderia ser causado tanto por um compromisso da pessoa, quanto por um movimento social.

Como apontado por Prochaska, neste estudo, o grupo Expansão de Consciência foi encontrado em 16 das 18 linhas de terapias analisadas. O intuito dele é garantir que o paciente tenha acesso a uma quantidade superior de informações, dessa forma é esperado que seja capaz de tomar melhores decisões. 

A catarse é conhecida desde a antiga Grécia. Para o filósofo Aristóteles era um processo de purificação da alma, causado pelo contato da pessoa com a poesia, música ou teatro. Ao experimentar essas obras, o indivíduo teria uma forma de dar vazão a conflitos pessoais.

Para a psicanálise, a catarse ocorre quando o paciente se liberta de traumas e emoções reprimidas, seja através da fala com o terapeuta ou de um insight do paciente. 

No modelo de Prochaska o grupo da Catarse é a união dos conceitos de Aristóteles – alívio dramático – e da psicanálise – experiência emocional corretiva -.

Prochaska e DiClemente definem o grupo Compromisso como: Uma escolha realizada frente à falta de informações. Podemos levantar como exemplo a escolha de um curso superior. Pois, por mais que pesquisemos, nunca teremos certeza se é, ou não, a escolha correta.

Nossos comportamentos dependem de estímulos externos. Por exemplo, é comum o hábito de fumar ser reforçado após a pessoa se alimentar ou beber uma xícara de café. Por isso, existem processos de transformação que atuam em nível comportamental. 

O grupo de Estímulos Condicionais têm foco na redução de estímulos externos que causam tentação nos pacientes. Já o grupo Gerenciamento de Contingências atua no outro espectro.

Observação: Os processos de mudanças foram atualizados com o passar dos anos. Por exemplo, neste artigo os processos de Educação e Feedback foram unificados no processo Expansão da Consciência. Além disso foram adicionados outros processos como reavaliação ambiental, relacionamentos auxiliares, etc.

O que são os estágios de mudança?

Mesmo que os processos de mudança sejam parte essencial do modelo transteórico, os estágios recebem uma atenção maior, tanto do público científico quanto no geral.

A ideia por trás dos estágios é: A mudança comportamental é composta por etapas. 

Que se mantêm as mesmas para qualquer pessoa e comportamento, sendo a intensidade a única variação possível.

Assim como os processos de mudança, os estágios foram lapidados no decorrer dos anos. Hoje, tendo como base a enciclopédia de medicina comportamental, temos 6 estágios, que serão descritos na tabela abaixo.

Pré-contemplaçãoEstágio no qual os indivíduos não possuem a intenção de praticar a ação. Pessoas podem se encontrar nesse estágio devido a falta de informações, vontade, entre outros.
ContemplaçãoEstágio em que os indivíduos estão se preparando para executar a ação dentro dos próximos 6 meses. Como consequência possuem uma compreensão dos benefícios e malefícios do comportamento.
PreparaçãoOs indivíduos irão agir no próximo mês. Sua maior preocupação, caso optem por agir, é a falha.
AçãoÉ possível notar a mudança comportamental do indivíduo. Esse é o estágio mais complexo e, por isso, exige um esforço maior.
ManutençãoNesse estágio o comportamento já é parte da pessoa, porém, mesmo que em menores quantidades, ainda é necessário esforço para executar a ação. Esse estágio pode durar de 6 meses a 5 anos.
TerminalEstágio em que o indivíduo acredita que nunca mais irá deixar de executar o comportamento.

Ok, agora que conhecemos o modelo transteórico, vamos aprender um pouco sobre sua utilização?

Aplicações do modelo transteórico

O modelo transteórico é uma ferramenta para compreendermos os passos e processos necessários à formação de hábitos.

Por isso, foi utilizado em intervenções que visavam a criação de hábitos saudáveis, como deixar de fumar ou melhorar a alimentação.

Uma das hipóteses levantadas com o modelo é o pareamento entre estágios e processos. Ou seja, a união entre certos estágios e processos levaria a uma maior taxa de sucesso na mudança de comportamento.

Um exemplo é a utilização de processos verbais como expansão da consciência e catarse nos estágios de pré contemplação e contemplação.

Além disso, esse modelo pode ser utilizado para a segmentação de públicos. Por exemplo, caso o governo busque criar uma campanha anti tabagismo que atue no combate a relapsos. Ou seja, em grupos que fumaram, conseguiram parar, porém ainda estão no estágio de manutenção.

Ainda que tenham passado pela etapa mais complexa, não podemos ignorar os riscos que acompanham essa fase. 

Por isso, uma campanha educacional focada em processos como o Contracondicionamento e Controle de Estímulos, segundo o modelo transteórico, seria mais eficiente, quando comparada a uma campanha focada nos processos de Feedback e Educação.

Como a ciência enxerga o modelo transteórico?

Como postulado por Armitage nesta revisão, esse modelo foi amplamente estudado e testado. Como consequência, atraiu inúmeras críticas. Sendo a maior parte sobre os estágios de mudança.

West, em seu artigo, aponta que existem sérios problemas com o modelo transteórico. Principalmente relacionados aos estágios de mudança, como, por exemplo, sua arbitrariedade. 

Pois, a utilização de períodos de tempo diferentes levaria a uma distribuição distinta de indivíduos e estágios. 

Isso, como consequência, viola uma das premissas do sistema que é o pareamento entre estágios e processos de mudança.

West argumenta que o modelo atrasa o desenvolvimento da área de promoção de hábitos saudáveis e, por isso, a teoria deve ser descartada.

Já, em contrapartida, Herzog, neste artigo, diz que o propósito do modelo é estimular o desenvolvimento de hipóteses testáveis, que irão levar a um melhor entendimento sobre a área.

Independente de como olhemos para essa situação, é importante compreendermos a importância desse modelo no desenvolvimento da área de promoção de saúde.

Hoje, ao buscar construir uma intervenção, é aconselhado a junção de multiplos modelos. Ou seja, utilizar componentes da TPB, Modelo de crença em comportamento, entre outros, para formar uma intervenção com maior probabilidade de sucesso.

Por isso, mesmo que o o modelo tenha falhas, é possível absorvermos o que acreditamos ser útil.

Além disso, grande parte dos problemas do modelo estão relacionados aos estágios. Sendo eles, apenas parte da teoria, fazendo com que ainda exista espaço para discutirmos e avaliarmos os processos de mudança.

Em sintese, esse modelo não é mais amplamente apoiado pela comunidade científica, como foi no passado. Por isso, entenda que, apesar de útil, ele é a resposta para compreensão da formação de hábitos.

Referências

  • Christopher J. Armitage (2009). Is there utility in the transtheoretical model?. , 14(2), 195–210.         doi:10.1348/135910708×368991      
  • ROBERT WEST (2005). Time for a change: putting the Transtheoretical (Stages of Change) Model to rest. , 100(8), 1036–1039.         doi:10.1111/j.1360-0443.2005.01139.x     
  • Prochaska, James O.; DiClemente, Carlo C. (1983). Stages and processes of self-change of smoking: Toward an integrative model of change.. , 51(3), 390–395.        doi:10.1037//0022-006x.51.3.390
  • Prochaska, James O.; DiClemente, Carlo C. (1982). Transtheoretical therapy: Toward a more integrative model of change.. , 19(3), 276–288.         doi:10.1037/h0088437
  • DiClemente, Carlo C.; Prochaska, James O. (1982). Self-change and therapy change of smoking behavior: A comparison of processes of change in cessation and maintenance. , 7(2), 133–142.         doi:10.1016/0306-4603(82)90038-7
  • ROBERT WEST (2005). Time for a change: putting the Transtheoretical (Stages of Change) Model to rest. , 100(8), 1036–1039.         doi:10.1111/j.1360-0443.2005.01139.x     
  • THADDEUS A. HERZOG (2005). WHEN POPULARITY OUTSTRIPS THE EVIDENCE: COMMENT ON WEST (2005). , 100(8), 1040–1041.         doi:10.1111/j.1360-0443.2005.01171.x     
  • Stephen Sutton (2001). Back to the drawing board? A review of applications of the transtheoretical model to substance use. , 96(1), 175–186.         doi:10.1046/j.1360-0443.2001.96117513.x

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