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Modelo de crença em saúde

"Em 1950, para entender o motivo da não adesão a programas de prevenção a doenças, psicólogos do serviço público de saúde dos Estados Unidos criaram o modelo de crença em saúde, mais conhecido como Health Belief Model. Ele se baseia na teoria de que a percepção de saúde da pessoa define a abertura que ela terá a uma mudança."

Em nossas vidas criamos hábitos sem compreender como isso acontece. Isso é natural, porém não tão benéfico. Podemos utilizar como exemplo o hábito de fumar.

Hoje, toda população tem conhecimento dos malefícios causados pelo cigarro. Ainda assim, em 2019, aproximadamente 10% da população brasileira – Aproximadamente 20 milhões de brasileiros – ainda utiliza o tabaco ou produtos derivados dele (Fonte: Sidra – Sistema IBGE de Recuperação Automática).

Ao compreender a formação de hábitos podemos trabalhar tanto na prevenção quanto no impulsionamento de comportamentos.

Em 1950, para entender o motivo da não adesão a programas de prevenção a doenças, psicólogos do serviço público de saúde dos Estados Unidos criaram o modelo de crença em saúde, mais conhecido como Health Belief Model.

Ele se baseia na teoria de que a percepção de saúde da pessoa define a abertura que ela terá a uma mudança.

Deste ponto em diante, quando formos nos referir ao modelo, utilizaremos a sigla HBM – Health Belief Model -. 

Neste artigo buscaremos entender o modelo de crença em saúde, tanto de forma positiva quanto negativa. Além disso, vamos criar maneiras de aplicá-lo ao dia a dia.

O que é o Modelo de crença em saúde?

O modelo de crença em saúde – Health Belief Model – é um framework utilizado para explicar o motivo de pessoas e grupos aderirem, ou não, a comportamentos. Ele se baseia na hipótese de que as crenças em saúde definem como formamos hábitos. 

Ok, mas o que são crenças em saúde? Bom, são opiniões/visões sobre um determinado tema, que definem como a pessoa se comporta perante a ele. Alguns exemplos são:

  • O quão danoso o comportamento é. 
  • O quanto você consegue lidar com os problemas trazidos pelo comportamento
  • Quantas barreiras existem entre você e o comportamento
  • Entre outras.

É importante destacar que esse modelo é focado na criação de hábitos saudáveis e, por isso, não se predispõe a explicar e definir todos os tipos de comportamento.

Ele é composto por 6 construtos, que explicaremos à frente.

Severidade percebida

Esse construto está relacionado ao quanto às consequências de nossas ações impactam nossa vida. Por exemplo, a compreensão que um paciente diabético tem da importância de sua adesão a uma dieta. Situações com maior severidade, em teoria, devem ser mais eficientes na mobilização de pessoas e grupos.

Susceptibilidade percebida

A susceptibilidade está relacionada ao quanto acreditamos que algo pode ocorrer conosco. Por exemplo, um homem que não saiba da existência do câncer de próstata não irá realizar os exames necessários para a identificação do mesmo.

A união dos construtos de susceptibilidade e severidade percebida é conhecida como ameaça percebida.

Barreiras percebidas

As barreiras são impeditivos que existem entre a pessoa e o comportamento, Elas se apresentam de diversas formas como a financeira, locomoção, medo, pressão social, entre outras. Por exemplo, para realizar uma mamografia a mulher deve ser capaz de se locomover até o local do exame, caso não possua um veículo, isso pode ser problemático.

Benefícios percebidos

Enquanto os construtos de barreiras, severidade e susceptibilidade atuam de maneira “negativa”, os benefícios estão no outro espectro. Para assumir um comportamento, é necessário um equilíbrio entre as ameaças, dificuldades e benefícios da ação. Assim como as barreiras, os benefícios não precisam estar relacionados apenas à saúde. Por isso, possuem diversas formas, como o benefício financeiro de se parar de fumar.

Já falamos sobre o quanto a satisfação impacta na criação de hábitos, se você quiser saber mais basta ler nosso artigo sobre formação de hábitos. Esse artigo é parte de nossa série Como aprender, ela é focada na construção de uma base teórica para que você consiga extrair o máximo de si ao estudar.

Gatilhos

Os gatilhos são componentes essenciais aos hábitos. São o “contexto” que nos levam a executar o comportamento. Por exemplo, no ato de fumar após beber café, “beber café” é o gatilho que leva a pessoa a concretizar a ação “fumar”.

Auto eficácia

Esse construto foi inserido na teoria após alguns anos de sua criação. A auto eficácia, foi criada por Bandura, e é definida como: “O quanto alguém acredita ser capaz de executar um corpotamento”.

Por exemplo, uma pessoa que pratica exercícios acredita ser mais capaz de praticá-los do que uma pessoa que não tem esse costume. É importante destacarmos que a auto eficácia pode ser treinada através da resiliência e repetição.

Aplicações do modelo de crença em saúde

Como dito anteriormente, o HBM é utilizado no contexto da saúde. Ele é caracterizado como um modelo centralizado no indivíduo. Devido a esse fator, sua maior utilização é na estruturação de processos de intervenção.

Como utilizar o modelo?

Essa sessão é composta pelas opiniões de nossa equipe. 

Aprender sobre o modelo é sempre interessante. Porém, a melhor parte é aplicá-lo ao nosso dia a dia para melhorarmos nossa vida.

Graças a “simplicidade” do Health Belief Model, a criação de projetos não é algo tão complexo. Levaremos o hábito de se exercitar como base para estruturar nosso plano.

Vamos lá?

1º Passo: Educação

Parte do Health Belief Model tem como foco a educação do indivíduo. Isso vem do pressuposto de que somos seres racionais e, quando munidos de informações corretas, fazemos as melhores escolhas para nossas vidas.

Por isso, é importante estudar sobre os comportamentos que desejamos criar. Essa é a base dessa etapa do nosso processo.

Nela, iremos ver os principais construtos afetados pela educação e materiais que nos ajudarão a desenvolver nossa visão sobre eles.

Os materiais escolhidos podem ser genéricos ou focados em uma condição específica sua. Para a construção da tabela tomaremos como base uma pessoa em situação de sobrepeso, com medo de se tornar obeso.

Os vídeos listados deveriam ser assistidos e estudados pela pessoa. Assim, ela passaria a compreender mais sobre sua atual situação e o que pode ser feito para mudá-la.

ConstrutoMateriais
Severidade Percebidahttps://www.youtube.com/watch?v=2kwvEQDPE5k

https://www.youtube.com/watch?v=NhiVkcRj-HY
Susceptibilidade Percebidahttps://www.youtube.com/watch?v=KZsd4A8H5N4

https://www.youtube.com/watch?v=EQUPvd5jhoE
Benefícios Percebidoshttps://www.youtube.com/watch?v=c4q-bhoGd-c
https://www.youtube.com/watch?v=12YX1sozG8g
O impacto da saúde nos estudos.

Não existe um tempo “correto” para investir nessa etapa. O mais importante é que você sinta compreender o comportamento, seus benefícios e malefícios.

2º Passo: Planejamento

Mesmo que o planejamento e a educação sejam etapas distintas, elas não precisam ser executadas em tempos diferentes.

Em nosso artigo sobre formação de hábitos, falamos mais a fundo sobre a importância do planejamento. Essa etapa é fundamental para que saibamos como nos portar frente aos desafios que irão aparecer.

Por isso, ele é um ótimo método para mitigar e remover as Barreiras Percebidas. Nessa etapa você irá criar 2 planos, o de ação e o de cooperação.

O primeiro plano, de ação, tem como foco te auxiliar na definição de como você irá executar a tarefa. Nele você irá inserir questões e respostas como:

Q. Qual exercício irei praticar?R. Caminhada.
Q. Em qual horário irei praticar exercícios?R. Às 19 horas.
Q. Aonde irei praticar exercícios?R. Irei começar a caminhar na rua de casa e irei até o ponto X.

Em nosso artigo sobre formação de hábitos criamos uma planilha para auxiliar na criação do hábito de tomar água. Você pode utilizá-la como base. Para isso é só fazer seu download da planilha para seu Google Drive.

O segundo plano, de cooperação, tem como objetivo auxiliar no combate aos seus pensamentos/comportamentos. Por isso, nele você irá inserir questões como:

Q. O que farei caso sinta preguiça de me exercitar?R1. Irei comer um chocolate e ir.
R2. Irei me arrumar e andar até a porta.
R3. Irei prometer que farei apenas 25% do trajeto e, caso não me sinta bem, voltarei.
Q. O que farei se alguém me convidar para sair nesse horário?R1. Irei caminhar pela manhã.R2. Irei avisar que só posso sair a partir das 20 horas.
Q. O que farei se estiver com dor de cabeça?R. Vou avaliar o nível da minha dor. Caso eu não consiga, não irei caminhar.

Assim como no plano de ação, você pode utilizar nossa planilha como base.

3º Passo: Gatilho

Gatilhos são coisas que nos lembram de executar uma ação. Ter um ritual/alarme que te lembre de se exercitar pode tornar a realização do comportamento mais fácil.

Por isso, escolha um gatilho que te mova e te deixe pronto. Por exemplo, se arrumar, ir até a cozinha e comer algo que te dê energia, como uma banana com mel.

4º Passo: Desenvolvendo sua auto eficácia.

A auto eficácia é a confiança que você possui de que será capaz de executar o comportamento. Essa habilidade precisa ser treinada e desenvolvida, passo a passo.

Ao assumir um desafio maior do que nossa capacidade a chance de falharmos é superior. Isso pode não parecer problemático, mas é. 

Quando você desiste de construir um hábito, sua percepção de auto eficácia diminui. Como consequência, você não tentará criar o hábito novamente.

Isso, em nossas vidas, pode ser uma bola de neve. Que nos afasta da alimentação saudável, prática de exercícios, socialização, etc.

Por isso, quebre o desafio em pequenas “doses”. Assim você desenvolve sua auto eficácia ao mesmo tempo que muda sua vida.

Uma forma de fazer isso, assumindo que o exercício seja a caminhada é:

Primeira SemanaCaminhar, por 15 minutos, 3 vezes na semana.
Segunda SemanaCaminhar, por 15 minutos, 3 vezes na semana.
Terceira SemanaCaminhar, por 15 minutos, 4 vezes na semana
Quarta SemanaCaminhar, por 15 minutos, 5 vezes na semana
Quinta SemanaCaminhar, por 16 minutos, 5 vezes na semana.

Assim, a partir da quinta semana, você poderá aumentar 1 minuto ( ou mais) por semana. 

Mesmo que esse modelo pareça lento é importante que respeite seus limites. É melhor caminhar 1 minuto por dia, do que 0.

5º Passo: Repetição

Criar um hábito é uma luta constante. Certos comportamentos, mesmo depois de tornarem-se hábitos, ainda exigem esforço de nossa parte. 

Nesse ponto é importante que você entenda que todos os passos podem e devem ser repetidos. 

Seu planejamento pode ser melhorado a cada erro, sua educação pode ser desenvolvida sempre que você se sentir desmotivado(a) e para alçar vôos maiores você precisará testar, constantemente, sua auto eficácia aumentando a complexidade do exercício.

Observação: É esperado que você tenha recaídas. Não se assuste ou deixe isso diminuir sua vontade e confiança em si mesmo, é através das falhas você terá a oportunidade para melhorar seu planejamento e educação.

Referências

  1. Glanz, K., Rimer, B. K., & Viswanath, K. (2008). Theory, research, and practice in health behavior and health education. In K. Glanz, B. K. Rimer, & K. Viswanath (Eds.), Health behavior and health education: Theory, research, and practice (pp. 45–62). Jossey-Bass.
  2. Jones CL, Jensen JD, Scherr CL, Brown NR, Christy K, Weaver J. The Health Belief Model as an explanatory framework in communication research: exploring parallel, serial, and moderated mediation. Health Commun. 2015;30(6):566-76. doi: https://doi.org/10.1080/10410236.2013.873363. Epub 2014 Jul 10. PMID: 25010519; PMCID: PMC4530978.
  3. Rosenstock IM. Historical Origins of the Health Belief Model. Health Education Monographs. 1974;2(4):328-335. doi:https://doi.org/10.1177/109019817400200403
  4. Fernandes M. Health belief model for coronavirus infection risk determinants. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002494

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